domingo, 31 de março de 2013

A última crónica

" Nos últimos tempos, volta-se a falar de reindustrialização, e surgiram estudos e inúmeras opiniões sobre um assunto que é caro a toda a Europa. É um objetivo difícil de alcançar, no atual quadro europeu, e com as regras em vigor no comércio internacional. Principalmente em países como o nosso, onde a aposta foi diferente desde a adesão.
Por cá, ouvem-se especialistas, que nos explicam o que fazer, e como o fazer. Escutamos os políticos, que agora defendem a ressurreição de um modelo que ajudaram a condenar. O consenso é, por vezes, patético, quando é feito de lugares comuns e de meras intenções. E, por isso, a reindustrialização corre o risco de ser um segundo "cluster do mar", defendido pelos seus antigos coveiros, e por românticos bem-intencionados que não conhecem a realidade.
Portugal precisa de ser autossuficiente, tem de exportar mais e de substituir as importações, equilibrando o défice externo e criando emprego. Algo que só é possível com políticas transversais, que também tenham impacto no setor primário e nos serviços.
Para que isso seja possível, o país tem de favorecer o investimento privado, de promover a produtividade, de aumentar a competitividade. Não nos iludamos, contudo. Com uma moeda forte, num continente vulnerável ao dumping internacional, com a economia nacional em recessão, com custos de contexto elevados por influência dos setores não transacionáveis que escapam às regras da sã concorrência, suportando o sobrepeso do Estado, pagando uma taxa de juro muito mais alta do que os nossos vizinhos, não dispondo de matérias-primas, não podemos contar com milagres.
Antes de mais, é preciso conquistar a confiança dos investidores, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Isso passa, por exemplo, por colocar um ponto final nas imponderabilidades legal e fiscal. Qualquer investidor sabe que corre todos os riscos inerentes ao seu negócio, mas não aceita estar à mercê de outros fatores imponderáveis. Não escolherá investir num país onde a justiça é morosa e, pior do que isso, improvável, ou onde há uma ameaça permanente de alterações fiscais que não podem ser precavidas.
O Estado que temos representa, em função da riqueza que geramos, um pesado fardo que resulta em custos de contexto elevados. E, não podendo ser mais barato, terá de ser mais eficiente, muito mais eficiente, nomeadamente na aplicação da Justiça, na desburocratização e na regulação. Quanto ao investimento público e às políticas de fomento ao investimento privado, exige-se que o Estado seja parcimonioso, alocando os recursos escassos de acordo com critérios que concorram para o objetivo anunciado, dando preferência aos investimentos que têm efeitos multiplicadores na economia, invertendo a sua política centralizadora que prejudica as regiões que mais exportam e cujo tecido empresarial é mais resiliente. A criação de um ambiente favorável ao investimento não depende, ainda assim, exclusivamente do Estado Central. As cidades e as áreas metropolitanas dispõem, também elas, de instrumentos que podem ajudar a construir esse ambiente, fomentando a articulação interinstitucional, ligando a estratégia de atração de investimento à inovação, ao empreendedorismo e à regeneração urbana e social.
Tal como o Estado Central, também as autarquias necessitam de ser consequentes na alocação de recursos. Esse tema justificaria, só por si, uma outra crónica.
Sucede que esta é a minha última crónica neste jornal. Vou-me dedicar por inteiro a um projeto sobre o qual, por razões de ética e decência, nunca escrevi nesta coluna. Agradeço ao Jornal de Notícias por me ter concedido este espaço; a si, caro leitor, por me ter lido."

Rui Moreira in Jornal de Notícias

sexta-feira, 29 de março de 2013

A lata

" O contrato com Sócrates para ser comentador semanal no canal público de televisão teve de partir, ou de passar, por Relvas. Isso é óbvio. E só a imagem do que terá sido essa negociação a dois dá uma ideia arrepiante, mas bem clara, do estado de degradação extrema a que chegou o regime.
É uma contratação que infelizmente não surpreende porque, na verdade, José Sócrates e Miguel Relvas são políticos siameses. Se olharmos bem para o perfil e para o percurso de um e de outro, a conclusão impõe-se como evidente. E muitas coisas estranhas se tornam, de repente, claras e compreensíveis.
A história da licenciatura de Relvas foi o primeiro sinal de uma semelhança que se revela bem mais funda: o mesmo fascínio pelo mundo dos negócios, o mesmo desprezo pela cultura e pelo mérito, o mesmo tipo de relação com a comunicação social, o mesmo apego sem princípios ao poder e, acima de tudo, a mesma lata, uma gigantesca lata! Só falta mesmo ver também Sócrates a trautear a "Grândola, Vila Morena", mas por este andar lá chegaremos...
O contrato com a RTP vem, de resto, acentuar mais uma convergência entre Sócrates e Relvas, e num ponto político extremamente sensível, que é o da conceção de serviço público de televisão. Porque, com este contrato, Sócrates aparece a cobrir inteiramente a devastação feita por Relvas no sector, e a bloquear tudo o que o PS pretenda dizer ou propor sobre o assunto. E quem cauciona o que Relvas fez aqui, cauciona tudo.
O que Sócrates deve fazer é assumir as suas responsabilidades na crise, e pedir desculpa aos portugueses - e para isso basta uma entrevista pontual, sóbria, esclarecedora e responsável. É isso que os Portugueses merecem, é disso que a nossa democracia precisa, e é a isso que o Partido Socialista tem direito. Ficar a pastar nos comentários, pelo contrário, é puro circo político, e do pior: é usar o horário nobre do serviço público de televisão para jogadas de baixa política e de pura revanche política pessoal.
Como já há tempos afirmei, Sócrates e Relvas são sem dúvida os dois políticos que mais contribuíram para a crise moral, e de confiança, que o País atravessa. Uma crise que veio agudizar todas as suspeitas com que os cidadãos olham para as suas elites dirigentes e para o continuado fracasso da sua ação.
São casos que a radical mediatização dos nossos dias facilita. Nomeadamente, porque ela abriu as portas à irrupção de um novo tipo de político, que trocou o retrato de cidadão esforçado, reservado e responsável de outros tempos, por um perfil em que o traço dominante é, simplesmente, o da lata.
E essa lata, é o quê? É sobretudo a expressão de uma afirmação pessoal sem limites de qualquer ordem, que tudo arrasa no seu caminho, num júbilo mais ou menos histérico que dispensa qualificações ou convicções que não sejam de ordem psicológica ou comunicacional. Daí, naturalmente, a excitação voluntarista e a encenação estridente que sempre a acompanham.
A lata não é certamente um exclusivo dos políticos, mas tem neles um terreno de exceção. Ela aparece hoje como um traço específico do que alguns autores têm diagnosticado como a "nova economia psíquica" do nosso tempo. É isso que leva muita gente a ver neles verdadeiros mutantes, e a lamentar nostalgicamente que, na política, tenham desaparecido os verdadeiros líderes...
Mas seja ou não de mutantes que se trata, é preciso reconhecer que os "políticos de lata" estão em sintonia com muitas transformações do mundo contemporâneo, e que é por isso que eles suscitam inegáveis apoios e vivas controvérsias. Figuras maiores, bem ilustrativas deste fenómeno, são Sílvio Berlusconi ou Nicolas Sarkozy.
São sempre criaturas mitómanas, destituídas de superego e, portanto, de sentido de culpa ou de responsabilidade. Revelam uma contumaz incapacidade de lidar com a frustração, que é, como Freud bem ensinou, onde começam todas as patologias verdadeiramente graves.
Com eles, tudo se dissolve num narcisismo amoral, quase delinquente, que vive entre a alucinação de todos os possíveis e a rejeição de quaisquer limites. Eles estão pois muito em linha com o paradigma do ilimitado que tem anestesiado e minado o mundo nas últimas décadas.
A lata tornou-se, deste modo, num traço político muito frequente, que anima os mais variados, e lamentáveis, tipos de voluntarismo. Não admira pois que os políticos de lata se singularizem, não pela sua dedicação a causas ou a convicções, mas pelos intermináveis casos em que se envolvem e são envolvidos.
É também por isso que eles têm sempre que tentar voltar - foi assim com Berlusconi, é o que se tem visto com Sarkozy, chegou a vez de José Sócrates. Não resistem... e todos encenam, para disfarçar a sua doentia obsessão com o poder, umas travessias do deserto mais ou menos culturais... Berlusconi com a música, Sarkozy com a literatura e o teatro, Sócrates com a filosofia.
Mas o seu compulsivo "comeback" acaba sempre por se impor, porque ele é o tributo que eles têm que pagar à sua tão vazia como ilimitada mitomania. Com consequências, atenção, que já conduziram várias sociedades e diversos países às piores tragédias. Esperemos que não seja esse, desta vez, o caso - mas o aviso aqui fica!..."

Manuel Maria Carrilho in Diário de Notícias

quinta-feira, 28 de março de 2013

Sócrates e a miséria da Filosofia

"O título "A Miseria da Filosofia" foi Karl Marx que o deu a um opúsculo no qual criticava a obra "A Filosofia da Miseria" do anarquista Proudhon. Mas neste caso significa apenas a miséria da filosofia que Sócrates aprendeu em Paris.
A filosofia distingue-se das religiões por lidar apenas com argumentos racionais. Ora, o que ontem se viu não foi bem isso.
Por exemplo, alguém racionalmente acredita que, mesmo com o PEC IV aprovado (e eu, na altura, defendi que o deveria ser), Portugal tivesse escapado ao resgate? Não creio. Essa ideia é um pensamento magico de Sócrates, algo a que se agarra, da mesma forma que um naufrago no mar alto vê a sua salvação no mais mísero toco.
Aprende-se, igualmente, na Filosofia que as pessoas desprendidas discutem ideias, as normais acontecimentos e as mesquinhas discutem pessoas. Dentro deste parâmetro, escuso de classificar o ex-primeiro-ministro (o atual vai pelo mesmo caminho, mas essa é outra conversa). Eu, que sou insuspeito de gostar do Presidente ou de achar que o seu papel tem sido positivo, registo que Sócrates diz que ele conspirou. Pois bem, quando era diretor do Expresso não foi de Belém que me chegou uma conspiração contra o Governo, mas do Governo que me chegou uma conspiração contra Belém. Na verdade, que interessa isso agora? Apenas nos dá conta do tipo de pessoas a que estávamos e estamos entregues.
Sócrates foi - como se dizia dos futebolistas - igual a si próprio. Parem a austeridade! exclama, não explicando como reduz o défice a que ele também se comprometeu no memorando da troika. Vitimiza-se, interrompe, coloca um ar superior enche a boca de si mesmo e fala muito da narrativa. O termo narrativa é interessante, porque parece introduzir uma relativização da verdade - como se várias narrativas coexistissem, sem que houvesse verdade e mentira. Mas há verdade e mentira e isso, como se aprende na Filosofia, não depende da vontade de Sócrates.
A demagogia, que é o terreno fértil dos tele-evangelistas, dos vendedores de facilidades, abundou. E apetece fazer as perguntas que o grande Cícero fez a Catilina, um demagogo da sua época: "Até quando Catilina abusarás da nossa paciência? Por quando tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a tua audácia abusará de nós? Sem esquecer que Catilina foi considerado um herói popular e Cícero enviado para o exílio, de onde voltou para se retirar da política ao entrar em choque com Júlio César. A República Romana, que Cícero defendera acima de tudo, tinha chegado ao fim. Abria-se o ciclo dos imperadores.
A moral da história não é quase nunca uma história moral!"

Henrique Monteiro in Expresso

quarta-feira, 27 de março de 2013

Alguém sabe a que horas chega o comboio a Sta. Apolónia?


O espião reintegrado e o triunfo dos porcos

" Há coisas que me têm de explicar muito devagarinho, a ver se eu entendo. Parece que há uma lei de 2007 (de Sócrates, o magnífico) que diz que um espião com mais de seis anos de casa tem emprego assegurado o resto da vida. Faça o que fizer? Perguntar-se-á - parece que sim.
Em função dessa lei, o espião Jorge Silva Carvalho foi agora reintegrado na presidência do Conselho de Ministros, com direito a assinatura de Passos Coelho e Vítor Gaspar e com o salário base que auferia quando era diretor do SIS. Para fazer o quê? Ah! Bom isso não sabemos, porque ainda ninguém sabe o que pode lá fazer o espião (embora ideias não me faltem).
Pronto a notícia está arrumada. A Lei é lei que se há de fazer? Etc. e tal.
Mas espera aí! Não foi este Governo que anunciou que vão uma série de funcionários para a rua?
Mas espera aí: Não é este o funcionário exemplar que está acusado de abuso de poder, violação de segredo de Estado e acesso indevido a dados pessoais? O tal que espiou um jornalista, deu informações privilegiadas a uma empresa e chegou a mandar espiar a ex-mulher de um amigo?
Mas espera aí! Não foi este mesmo Jorge Silva Carvalho que se demitiu das secretas em Novembro de 2010, nas vésperas de uma cimeira da NATO em Portugal, por discordar do corte de verbas?
Mas espera aí! Não foi este o espião que depois arranjou emprego no Conselho de Administração de uma, então prospérrima empresa privada que ia comprar meio mundo (e ao serviço da qual, suspeita-se, colocou os seus dotes de espião)?
Não deve ser. Deve ser outro Jorge Silva Carvalho. Porque se fosse o mesmo - e estando o Governo a meter funcionários na rua - começaria por este. Que já se demitiu! Que quis mudar de vida. Que passou do Estado para a privada por vontade própria! Que é arguido por ter prejudicado o próprio Estado.
Deve ser outro, porque o Governo não é assim tão escrupuloso na lei, quando se trata de pensionistas, reformados, assalariados, desempregados, pessoas - digamos - normais.
Deve ser outro, porque este era amigo do dr. Relvas e o dr. Passos Coelho, como se sabe, não beneficia os amigos nem os amigos dos amigos, nem sequer os amigos dos amigos dos amigos.
Mas nem vale a pena fazer comentários. George Orwell, no seu magnífico livro 'O Triunfo dos Porcos' (em inglês Animal's Farm) escreve a célebre frase: "Todos somos iguais, mas alguns são mais iguais do que outros". Parece que os porcos não triunfaram só na quinta imaginada por Orwell.

Henrique Monteiro in Expresso

Uma capa e duas manchetes: o mau estado do país


segunda-feira, 25 de março de 2013

Os socráticos estão de volta...

... ao mais alto nível e ao nível que nos foi dado a conhecer durante 7 anos ( desde final de 2003 até meio de 2011): na comunicação, nos editoriais dos jornais, bajulando as suas acções e empregnando o povo da "espectacularidade" do Grande Líder.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma questão de Ruis e um discurso que deveria orgulhar o PSD

Na apresentação do livro "Rumo ao Abismo", em plena campanha para as legislativas de 2011, no Palácio da Bolsa, Rui Moreira tinha consigo, além de todo o saber que lhe molda o cérebro, o Porto, da direita à esquerda moderada, associações, clubes desportivos, elites sociais, económicas e culturais.
Nessa altura apercebi-me que Rui Moreira reunia todas as qualidades,  como pessoa e como político, para ser o sucessor nato de Rui Rio.
Na passada quarta-feira, na apresentação da candidatura de Rui Moreira, voltei a ver o PSD, CDS e PS na sala e, sobretudo, muitos populares fazendo jus ao lema do candidato: pelo Porto.
Moreira estava tenso, neste seu primeiro discurso, mas a mensagem que passou foi clara. Fez um discurso que deveria encher de orgulho o PSD: não vai deitar fora a boa política que Rui Rio exerceu no Porto e não vai entrar na onda das obras megalómanas e despesistas.
Depois da decisão do Tribunal Cível de Lisboa sobre a candidatura de Fernando Seara, aqui está a hipótese  do PSD conseguir dar a volta por cima e ter um candidato vencedor: apoiando Rui Moreira; ao longe, como o CDS, porque esta candidatura é genuína.

quinta-feira, 21 de março de 2013

A evolução da espécie


  1. António Costa "vai não vai" disputar a liderança com António José Seguro
  2. André Figueiredo, José Lello e Isabel Moreira clamam por uma Moção de Censura ao Governo
  3. Mário Soares exige que António José Seguro se defina
  4. Sócrates aparece como comentador na RTP
" Qual é a pressa?"
Sem saber muito bem como, sem ter jogado, saiu o Totobola ao Governo.  

Hardcore 1º escalão

É imoral, pornográfico, não demonstra o mínimo de arrependimento por tudo o que fez ao povo português.
Abre um precedente nos demais ex-Primeiro Ministro que, após terem abandonado o cargo, sempre demonstraram recato institucional.
Para as viúvas: a desculpa de não haver lugar a remuneração  não tem cabimento; qualquer pessoa sabe que, para uma figura pública, 25 minutos semanais em canal aberto de TV, vale muito mais que todos os ordenados que se possam usufruir.

A mercearia - 11


Mário Soares criticou a posição do "PS de Seguro", "que não pediu ainda a demissão do Governo," lembrando que "na política partidária, ou se está de um lado ou do outro" e sublinhando que "estar a meio caminho só serve para os partidos enfraquecerem".
O antigo Presidente, ao contrário daquilo que o seu CV e idade deveriam transmitir, parece um jotinha, tomando a partidarite como uma claque de futebol, em que tudo é branco ou preto, desconhecendo o mundo, a economia, a história e o humanismo, necessários, para se perceber que existem muito mais cores que moldam a visão e o rumo.
Não acredito que Soares seja assim. Acredito que outra coisa o move.
Antes de Soares, André Figueiredo e depois José Lello e Isabel Moreira, vieram clamar que o país esperava que o PS fizesse a apresentação de uma Moção de Censura ao Governo.
Para que querem os socialistas viúvos de Sócrates, e outros que não vão com a cara de Seguro, que o PS apresente uma Moção de Censura?
No actual quadro de representatividade na Assembleia, uma Moção de Censura ao Governo não passa porque não colhe a maioria dos votos dos deputados (a menos que Paulo Portas e o CDS estejam cansados de estar no Governo e decidam, desse modo, acabar com ele).
No entanto, na Moção de Censura e nos dias que a antecederem vamos ter o PSD a acusar o Governo de Sócrates pelo estado em que deixou o país, a assinatura do Memorando de Entendimento com a Troika e a actual crise.
A Seguro e ao PS restam apenas e só duas coisas: ou vão defender com unhas e dentes o anterior Governo, em plena Assembleia da Republica, legitimando todas as asneiras que foram feitas ou, não fazem nada.
Qualquer uma das soluções é má mas caso o PS não faça nada, os opositores de Seguro têm mais um argumento para pedirem eleições internas: o actual líder não é capaz de defender os seus camaradas de partido.
A pergunta que faço a todos é simples: o que ganha o país com isto?! Nada. Mas assim se faz oposição cá pelo burgo, assim se divertem os digníssimos senhores do Partido Socialista. 
Com a crise que vivemos, pessoas com a experiência de Mário Soares, José Lello, quiçá Pedro Silva Pereira, ao invés de contribuírem para a resolução do problema, olham para o umbigo.



João Rebelo Martins in Politica Queira Mais

quarta-feira, 20 de março de 2013

A salvação autárquica do PSD

A notícia que saiu no Público, dizendo que o Tribunal Cível de Lisboa impede a candidatura de Fernando Seara à Câmara Municipal de Lisboa, poderá ser, a meu ver, a salvação política do PSD nas próximas eleições autárquicas.
Como aqui escrevi no ano passadoacredito que para existir evolução tem que existir renovação. Não devemos esquecer o passado mas temos que olhar o futuro; os tempos, as acções e as pessoas convergem em determinada altura mas tendem, gradualmente, a divergir.
Posto isto, acredito que pessoas que estão há 12 ou mais anos à frente de instituições, deverão abandonar os seus cargos.
Eu penso assim e muita gente em Portugal, também.
Falamos de cargos autárquicos/ poder local. Se as pessoas não são do local, se saltam de cidade em cidade, como podem exercer a política local?! 
Com isto prevejo uma derrota do PSD em  toda a linha porque as pessoas - aquelas para quem deve ser exercida a política -, de um dia para o outro, não vão acreditar que uma pessoa que foi Presidente de Câmara durante anos a fio num dado concelho, tenha conhecimento de causa suficiente para exercer o mesmo cargo noutro lado.
Não nos podemos esquecer que isto que se está a passar não é igual a um determinado candidato concorrer pela primeira vez a uma autarquia porque, normalmente, esse putativo candidato habita essa terra, interessa-se por essa terra e já esta envolvido na sua política local. 
Neste caso temos para-quedistas, tão e só.
Assim sendo, esta notícia só pode ser boa: em vez do partido perder tempo a recorrer das decisões, escolha novos candidatos, da terra, que sejam admirados pela população, que tenham obra feita e passem a mensagem que isto tudo foi um mal-entendido. 

terça-feira, 19 de março de 2013

Mário Soares e o que há de mau na politica de hoje

Mário Soares criticou a posição do "PS de Seguro", "que não pediu ainda a demissão do Governo," lembrando que "na política partidária, ou se está de um lado ou do outro" e sublinhando que "estar a meio caminho só serve para os partidos enfraquecerem".
O antigo Presidente, ao contrário daquilo que o seu CV e idade deveriam transmitir, parece um miúdo da JS ou da JSD, tomando a partidarite como uma claque de futebol, em que tudo é branco ou preto, desconhecendo o mundo, a economia, a história e o humanismo, necessários, para se perceber que existem muito mais cores que moldam a visão e o rumo.
Não acredito que Soares seja assim. Acredito que outra coisa o move : colocar o actual PS a defender com unhas e dentes o PS de Sócrates; aquele que no debate de discussão da moção de censura vai ser atacado como sendo o grande responsável pela actual crise. 

terça-feira, 12 de março de 2013

No PS de hoje...

... António José Seguro ainda não aprendeu a utilizar o e-mail...
E Carlos Zorrinho ainda se mantém jovem inculto, necessitando dar exemplos futeboleiros para se fazer ouvir.
Com esta oposição, que esperança podem ter os portugueses, que caminho resta a Cavaco Silva?!

A mercearia - 10


No meu ponto de vista, Rui Rio é o autarca modelo dos últimos tempos: numa altura onde já não existia dinheiro a rodos enviado pela Comunidade Europeia, Rio conseguiu gerir bem uma cidade, conseguiu revitaliza-la e dar melhores condições de vida aos seus cidadãos. Fez política pela política, ou seja, preocupado exclusivamente com a melhoria e o bem-estar geral em prol dos seus interesses. Sá Carneiro teria orgulho dele.
Esta forma de actuar custou-lhe alguns dissabores, provavelmente também perdeu irremediavelmente o lugar de Primeiro Ministro mas ganhou para todo o sempre o respeito do povo da segunda maior cidade de Portugal.
Eu fui morar para o Porto em 1999 e consegui ver bem de perto a diferença entre a governação socialista de Fernando Gomes/ Nuno Cardoso e a forma de fazer política que se seguiu. O Porto era um estaleiro, uma cidade sem nenhum ponto de interesse, um sítio perigoso para se habitar e passear, onde o main stream dos seus habitantes, em horas de lazer, se resumia aos shopping e às discotecas na zona industrial. O Porto, como se viu em casos de justiça que surgiram a posteriori, vivia da pressão e do lobby que circulava entre construtoras, associações, empresas de segurança, claques de futebol. Daí resultou um abaixamento drástico do pequeno comércio tradicional, o empobrecimento e destruição das ruas, o afastamento das pessoas para cidades periféricas.
Rui Rio passou o primeiro mandato a resolver estes problemas, problemas de gestão corrente, a, como se diz na gíria, “limpar a casa”.
Depois disso traçou um objectivo: voltar a trazer pessoas para a baixa portuense. Seguindo-se a estratégia: trazer para a baixa o pequeno comércio tradicional, restaurantes e bares; fazer com que as pessoas vivam na baixa porque lá se poderia encontrar de tudo.
Para se analisar a forma/ força com Rio tratou da estratégia dado um objectivo, vale a pena recordar a implementação do El Corte Inglês em Gaia. A primeira localização era o Porto; mais propriamente a zona da Rotunda da Boavista. A Câmara do Porto acolhia a empresa espanhola se ela se instalasse na zona dos Aliados. Caso contrário não queria porque, com isso, iria criar uma concorrência ao comércio da Baixa e os investidores iriam-se sentir defraudados.  O El Corte Inglês abriu em Gaia; Rio manteve a aposta e o respeito.
Podemos e devemos olhar para o que foi feito no Porto e, à nossa escala, pensar numa solução idêntica para o centro de Oliveira de Azeméis.
Actualmente o comércio tradicional e a restauração oliveirense estão dispersos por vários pontos da cidade, sendo difícil aos comerciantes unirem-se para criar melhores condições a todos, não é promovido o cross-selling natural que as pessoas exercem quando vão comprar na rua: saltam de loja em loja, não é possível a comparação de ementas dos restaurantes e, de grande importância social, não é promovido o convívio típico de uma pequena multidão.
Com tanta dispersão como aquela que temos nos dias de hoje, é normal as pessoas não reconhecerem vida, movimento e convívio a Oliveira de Azeméis.
A Zona Pedonal, o Jardim Público e o Largo do Gémini são três zonas de indiscutível valor para se promover o comércio tradicional, a restauração e a animação nocturna, bem como a dinamização cultural da cidade.
A exemplo do Porto, juntar estas quatro premissas na mesma solução é como acrescentar dentes a uma roda dentada, fazendo o movimento de um tocar o movimento do outro.
Por forma a se cativarem os empresários para o centro da cidade, além da campanha de promoção mediática que deverá ser feita, é necessário contabilizar a ajuda financeira. Como incentivo, como ajuda, a Câmara Municipal poderia, para novos negócios – pequenas lojas, restaurantes e bares -, aplicar taxas reduzidas no licenciamento, na utilização de esplanadas, promover horários de encerramento diferentes, etc..
São apenas alguns exemplos - certamente existirão muitos mais – de como se poderia dinamizar o comércio tradicional e a restauração, devolvendo  Oliveira de Azeméis aos oliveirenses, fazer com que se repitam imagens como as que vemos nas fotografias dos anos sessenta e setenta do século passado.
A prova que este poderá ser o caminho é a forma como as pessoas se deslocam ao Mercado à Moda Antiga e à Noite Branca, ávidos de conviverem.
A exemplo da Baixa do Porto, onde vemos uma cidade que vibra dentro da própria cidade, a Zona Pedonal de Oliveira de Azeméis poderá vibrar o ano todo, com pequenas lojas, artistas plásticos, esplanadas de verão e de inverno, conversas, musica, alegria e sorrisos.      

sexta-feira, 8 de março de 2013

A mercearia - 9



Meus Caros amigos, começo esta crónica com um desafio: vão à La-Salette, à zona do miradouro e olhem um pouco para a Vossa esquerda.
O que vão ver, ao fundo, entre duas fragas, é a ribeira de Cidacos: um local calmo, com água fresca, que, em tempos, foi intervencionado pela Câmara Municipal, criando-se ali uma zona de convívio; umas mesas de piquenique, junto à cascata da ribeira e outras, de madeira, um pouco mais a baixo.
Se olharem bem, conseguem traçar uma linha recta, por uma zona de floresta e campos, praticamente desabitada, entre o parque e a ribeira. Se olharem e se sonharem, como eu faço de cada vez que lá vou, poderão imaginar o parque de La-Salette, prolongado até à ribeira de Cidacos.
O parque, devido a muitas obras que se deixaram fazer em torno dele, deixou de ser um ex-libris verde para ser um local de culto e um “centro lúdico” para todos quanto o visitam. Continua a ter árvores, é certo, mas, porventura, não estão tão cuidadas como se poderiam estar.
O prolongamento do parque até à ribeira de Cidacos seria uma oportunidade para devolver o verde ao parque, para se criar um parque único, botânico, vocacionado para o estudo e para o turismo. Nas cidades vizinhas – S. João da Madeira e Vale de Cambra – existem os apelidados “ Parque da Cidade”, vocacionados para a actividade física. Será que são diferenciadores? Eu penso que não. Penso que serão importantes para as comunidades locais mas infra-estruturas idênticas em tão curto espaço territorial, além de redundante, não me parece que acrescentem valor ao EDV. Para Oliveira de Azeméis temos que pensar algo diferente, que se adapte à nossa história e à nossa cultura. 
Com o prolongamento do parque tem que se pensar, desde logo, em aspectos estratégicos e práticos, para que tudo tenha sentido e aplicabilidade: o parque seria botânico, um polo capaz de captar turistas de Portugal e da Europa, que seja possível aprofundar o conhecimento e a ligação às universidades como, por exemplo, potenciar o estudo de interacções que provoquem a doença alérgica.    
Foram emigrantes oliveirenses no Brasil que enviaram as árvores que ainda hoje crescem na La-Salette; é devido a isso que em Oliveira de Azeméis existem árvores únicas na Europa. A história poder-se-á repetir: trazer árvores exóticas, catalogadas, plantando-se em alamedas identificadoras do local de origem.
A criação de jardins típicos de outros locais do mundo. Para um japonês o paisagismo é uma elevada forma de arte, conseguindo, num curto espaço, expressar a essência da natureza de forma harmoniosa com a paisagem local. Um jardim japonês, por exemplo, com um lago de carpas, bambus, cerejeiras ou acer vermelho.
A edificação de estufas, em vidro “oliveirense”, onde poderão florescer orquídeas. A edificação de uma estrutura de apoio com laboratórios que permitam o estudo e a monitorização do parque porque é necessário controlar a criação destes ecossistemas para que eles não interajam com o ecossistema local.
A criação deste “novo” parque tem que respeitar o actual parque. Assim, o parque começaria a seguir à “Casa do Mateiro” e o acesso à capela, estalagem e piscina seria livre, como hoje, mas com a particularidade de se ter que fazer sem carros.
A partir deste ponto seria necessário pagar a entrada. Já estive em alguns parques naturais e botânicos em três continentes e o acesso era sempre limitado e/ou pago. É uma forma de preservar os parques e, também, fazer com que as pessoas dêem real valor ao que estão a visitar.
Dentro do “novo” parque as pessoas circulariam a pé, por entre a floresta, e seriam criados transportes especiais no seu interior, complementando os percursos pedestres, como sendo um funicular ou um teleférico. A passagem pela variante seria superior, sendo mais barata que uma passagem inferior, ajudando a divulgar ainda mais o parque, junto de todos os que seguiriam para a auto-estrada e Vale de Cambra.
A criação do parque botânico de La-Salette não é barata mas poderá ser levada em conta no médio prazo: Portugal não vai viver eternamente em crise, poderão ser disponibilizados fundos europeus e grande parte do trabalho é feito com técnicos que já se encontram nos quadros da Câmara Municipal – arquitectos paisagistas, jardineiros, pessoal administrativo e pessoal não diferenciado.
A criação do parque botânico de La-Salette deverá ser uma ideia a ter em conta quer pela importância que poderá ter para o turismo regional e a economia local que depende directa e indirectamente dele mas, sobretudo, para a própria manutenção da actual La-Salette. 


in Politíca Queira Mais

sexta-feira, 1 de março de 2013

Os palhaços e a democracia europeia


"Para irmos diretos ao assunto, não há qualquer dúvida de que os palhaços lucram bastante com a balbúrdia que vai na Europa. Viu-se na Itália e ver-se-á em todos os países onde descomprometidos com o sistema político façam promessas irrealizáveis, demagógicas e absurdas. Podem ser palhaços propriamente ditos, como Beppe Grillo, ou partidos extra-sistema, à esquerda e à direita.
A crise de valores que está na origem da crise financeira, que por sua vez originou a crise económica, que ditou a crise social que agora impõe a crise política - ah! como é bom saber História para reconhecer esta cíclica sucessão de fenómenos que, cada vez que é superada, se jura ser a última - dita este tipo de comportamentos. Como aqui já escrevi, as emoções tomam o palco da razão e o caldo fica entornado.
Mas há uns senhores que nunca mudam. Estão em Bruxelas. Paul De Grauwe, um reputado economista belga que ensinou em Lovaina e está agora na London School of Economics, salienta que esta situação é insustentável. "As consequências políticas da austeridade, que foram aplicadas pelo governo Monti, permitem que as instituições europeias que as impuseram se mantenham" diz de Grauwe ao Wall Street Journal. Na verdade, como se tem visto um pouco por todo o lado, os governos mudam na periferia mas o centro (Bruxelas) não lhes permite alterar a política. Esta situação, acrescenta De Grauwe, "é insustentável, tem de ser abandonada ou alterada nos seus fundamentos".
Como se diz em Espanha, é possível dizê-lo mais alto, mas não mais claro. O assunto tornou-se demasiado sério para ser comandado apenas por economistas. É na política e - sublinhe-se - na política democrática ao nível europeu que as coisas têm de ser jogadas. Se na própria União Europeia não se derem passos firmes e rápidos no sentido de uma maior democratização, temos a Europa entregue a palhaços, a fascistas e a radicais. No fundo, às versões pós-modernas do que já conhecemos tão bem na História do Velho Continente."

Henrique Monteiro in Expresso